Em tempos de cólera política no Brasil, quando a fé cristã é usada e abusada como justificativa para o avanço da extrema-direita, é necessário refletir sobre a contradição entre isso e os verdadeiros ensinamentos cristãos, sobretudo de um ponto ponto de vista do interior da comunidade protestante.
Por Hermínio Porto*
A situação política atual expõe a crise que o cristianismo, sobretudo protestante, enfrenta. Para além do velho conservadorismo, que há tento tem atacado diversas minorias, líderes de igrejas se organizam como defensores de um negócio lucrativo. As igrejas mais ricas não se sustentam apenas de dízimos e ofertas, mas de patrocínios direcionados a canais de televisão, vendas de produtos e especulação de terras. Milhares de fiéis encontram nos pastores uma fonte de esperança, mas a “graça de Cristo” é vendida na exigência de pagamentos, doações e submissão moral, intelectual e, cada vez mais, política.
Tal crise não afeta somente as denominações neopentecostais seguidoras de uma teologia da prosperidade. Igrejas mais tradicionais, de notável produção teológica e cultural cristã (música, alimentação, literatura), cujas escolas e universidades confessionais formam milhares de pessoas, estão se deixando levar palas correntes do secularismo fascista. Armam barricadas contra a democracia, única garantidora da plena liberdade religiosa (tantas vezes reivindicada para si, e negada a terreiros).
O fascismo tem eliminado qualquer diferença teológica entre igrejas, como por exemplo a Adventista do Sétimo Dia e a Universal do Reino de Deus, em torno de uma pauta comum, que não é Cristo: mas o TERROR. “Deus acima de todos”, mas no coração de ninguém. Se eu cresci aterrorizado por uma escatológica perseguição estatal contra os filhos de Deus, vejo agora as igrejas se rendendo à sedução estatal para a imposição uma teocracia.
Ninguém mais é ensinado a acreditar no Paraíso, num advento ou qualquer redenção. Esta miséria religiosa é a expressão da miséria real. Mas em que termos tem protestado contra ela? Lideranças religiosas preferem reafirmá-la em termos apócrifos, tirando de vista o “mar de cristal” ou as “árvores de doze frutos”, por uma terra suja do sangue de inocente. Estes fariseus, cientes que não entrariam numa terra prometida (ainda que exista!) tentam cria o paraíso aqui, e este paraíso fariseu e fascista é a imagem do Inferno.
Hermínio Porto é graduado em direito pela PUC-SP, universidade pela qual também é mestrando em direito. Trabalha como servidor público do Estado de São Paulo. Foi membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia a maior parte de sua vida.