Guerreiro Ramos foi esquecido. Embora estejamos vivendo um momento de redescoberta da obra do grande sociólogo baiano, ele não é um autor hegemônico ou retratado como um clássico nas ciências sociais brasileiras. Enquanto isso, Gilberto Freyre segue como o nosso mais prestigiado sociólogo oficial. Com todos os problemas e limites, devemos criticar, sem meias palavras, a sociologia nacionalista do pensador baiano, mas também lembrar como ele era um pensador e militante político comprometido com a soberania nacional, a superação da dependência e do subdesenvolvimento, com a elevação material e cultural do povo trabalhador e a afirmação do Brasil na geopolítica do mundo imperialista.
Gilberto Freyre, ao contrário, um pena amestrada da classe dominante, dedicou sua vida, sua obra e sua ação política para manter o Brasil como é: uma máquina gigantesca de produzir riquezas para poucos (internamente e para fora), destruindo a vida e os sonhos das maiorias e apresentando as nossas misérias e lutas pela sobrevivência como um belo, idílico e doce traço cultural da nossa personalidade nacional. O pernambucano apoiou o golpe empresarial-militar de 1964, o fascismo salazarista e foi contra a descolonização afro-asiática. A despeito de tudo isso, o autor segue celebrado e aclamado. Mas por quê?
Neste novo livro, Jones Manoel traça um paralelo intelectual e militante entre os dois pensadores, revelando o racismo e o reacionarismo subconsciente que ronda a sociologia crítica. Além disso, debate a produção teórica de Alberto Guerreiro Ramos: um dos grandes nomes da sociologia e nacionalismo brasileiro, figura destacada nos confrontos teóricos e políticos das décadas de 1950 e 1960. Na obra de Guerreiro Ramos podemos encontrar um projeto de Brasil que foi derrotado com o golpe empresarial-militar de 1964 – o então deputado Guerreiro Ramos foi cassado – e trazendo esse passado de volta ao debate, resgatar a necessidade de um projeto para o século XXI da Revolução Brasileira!
“No esforço empreendido por Jones Manoel, destaca-se o rompimento com um certo marasmo laudatório na atual recepção de intelectuais negros e negras do passado. O livro é uma retomada de Guerreiro, mas uma retomada em tensão e confronto, sem espaço para conciliações e convergências intelectuais e políticas onde não é possível. Se aprendemos com os acertos do sociólogo, também aprendemos com a crítica séria de seus erros e incongruências.”
— Marcos Queiroz
“Do ponto de vista filosófico, para além de uma análise sobre a questão racial na obra de Guerreiro Ramos, também está em pauta um debate, sem hipocrisias, e meias-palavras, sobre o racismo, reacionarismo e preconceito nos meios socialistas, nacionalista de esquerda e anti-imperialista, camuflados de falsa disputa conceitual. Para além disso, sobram críticas também para a esquerda liberal.
Jones Manoel, corretamente, critica de forma dura e consistente a utilização sem nenhum rigor e seriedade filosófica do termo e categoria ‘identitário’ quando para se referir a movimentos em defesa de direitos sociais e de luta contra opressão, algo que geralmente vem em conjunto de uma visão de mundo reativa, e refratária, e, portanto, reacionária, e não propositiva, a aspectos da globalização assimétrica.”
— Daniel Albuquerque Abramo
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