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Nova Fase da Guerra na Síria: a invasão turca contra os curdos

Turquia ataca norte da Síria mirando enfraquecer os curdos que lutam por sua autonomia. Investida militar pode abrir nova guerra na região

Por Patrick Cockburn, The Independent | Tradução de Hugo Albuquerque

Soldados turcos entraram no enclave curdo de Efrin, situado no norte da Síria, em um movimento que pode significar uma nova fase da crise síria — que já dura 7 anos. A Turquia diz que que planeja estabelecer uma zona de segurança de trinta quilômetros sob seu controle. De acordo com os militares turcos, seus jatos e artilharia atingiram 153 alvos. As forças paramilitares curdas, conhecidas como YPG, estão lutando e dizem que o assalto militar turco está sendo repelido.

O ataque turco torna mais complicado ainda o xadrez político-militar na Síria, pois trará os EUA para o confronto direto com a Turquia, sua aliada da OTAN, uma vez que o parceiro norte-americano na Síria é o YPG (Unidades de Proteção Popular, do curdo: Yekîneyên Parastina Gel). Foram tropas terrestres YPG, apoiadas por ataques aéreos dos EUA, que levaram à captura de Raqqa do Estado Islâmico em outubro.

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A Turquia vê como um pesadelo, já não é de hoje, a ascensão dos curdos sírios, os quais têm uma população de cerca de 2 milhões de pessoas e vivem principalmente no nordeste da Síria. Ela assistiu, consternada, desde 2012, como o YPG obteve o controle de uma grande área de território a leste do Rio Eufrates — e a exemplo do PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, que trava um combate direto contra a Turquia no Curdistão turco, o YPG tem a mesma estratégia no Curdistão sírio. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan os descreveu como “terroristas” e prometeu repetidamente destruí-los.

O futuro desse enclave semi-independente conhecido pelos curdos sírios como Rojava está agora na corda bamba. Os EUA interviram militarmente na Síria em 2014 para defender a cidade curda de Kobani, que foi atacada pelo Estado Islâmico. Líderes regionais se perguntaram se os EUA ficariam com seus aliados curdos, uma vez que o Estado Islâmico foi eliminado, arriscando-se a irritar a Turquia ou tiraria seus conselheiros militares da Síria, deixando o YPG à própria sorte.

Os EUA disseram que nunca tiveram forças em Efrin e o que acontece lá seria de responsabilidade russa, uma vez que há observadores militares russos no enclave. No entanto, a queda de Efrin será tomada como um sinal de que os EUA não querem ou não podem defender seus aliados curdos. Na verdade, os  EUA subestimaram a fragilidade da situação no norte da Síria que provocou a crise atual.

No início deste mês, os EUA disseram que estavam apoiando o estabelecimento de uma força de fronteira de 30 mil pessoas, que na prática seria dominada pelo YPG. O secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, afirmou que sua oferta foi mal interpretada pela Turquia, mas os turcos ficaram consternados com o que eles consideram como um direcionamento pró-curdos da política dos EUA.

Mas justamente quando Tillerson estava tentando apagar a fogueira nas relações entre EUA e Turquia, ele provocou uma crise mais profunda, dizendo, em um discurso na semana passada, que os EUA manteriam seus 2 mil conselheiros militares e tropas de logística na Síria no futuro próximo. Isso seria para evitar o ressurgimento do Estado Islâmico, mas era, acima de tudo, destinado a enfraquecer a posição do presidente Bashar al-Assad e do Irã. O que quer que o senhor Tillerson quisesse dizer, contudo, soou como uma garantia militar de longo prazo ao enclave curdo sírio.

Essa promessa de uma permanente presença militar dos EUA na Síria enfureceu Erdogan e excluiu a Rússia, a Síria e o Irã – países que acreditavam que a nova política dos EUA na Síria era um sinal de que os líderes curdos sírios haviam se entregue de corpo e alma em uma aliança com os EUA. Anteriormente, os curdos tentaram se equilibrar entre a Rússia e os EUA e evitar serem vistos como um inimigo permanente de Assad, no intento do líder de unir novamente a Síria sob o seu governo.

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A Rússia vinha providenciando proteção para Efrin, um enclave isolado com uma população de 200 mil habitantes face a face com a fronteira turca. Moscou estacionou observadores militares lá e garantiu que a Turquia não poderia usar o espaço aéreo sírio, onde a Rússia tem superioridade militar, para bombardear os curdos sem sua permissão. Mas em retaliação à mudança curda no campo dos EUA, Moscou teria dito aos turcos que seu ataque contra Efrin não seria contrário aos jatos russos e aos sistemas de defesa aérea. Isso permitiu que a Turquia usasse seu poder aéreo dentro de Efrin durante sua invasão. Mesmo assim, o YPG é uma força militar altamente efetiva capaz de infligir grandes perdas ao exército turco e seus milícias aliadas locais.

O problema mais geral para os curdos sírios é que eles estão dispostos em uma área demasiadamente extensa, tendo avançado muito além das áreas de maioria curda. Eles acompanharam as prioridades políticas dos EUA, tomando áreas economicamente importantes, como os campos petrolíferos na província oriental de Deir Ezzor, que Assad quer de volta. Assad não vai gostar das unidades militares turcas entrando no território sírio, mas há vantagens para ele se a ofensiva turca mostrar aos curdos que não podem confiar nos EUA para protegê-los.

Os curdos na Síria não têm muita escolha. Eles estão cercados por inimigos e não são mais necessários contra o Estado Islâmico uma vez que ele foi derrotado. Eles acabaram de ver os curdos iraquianos, que também usaram a guerra contra os Estado Islâmico para construir um sub-Estado semi-independente, perderem todos os seus ganhos em outubro passado, depois de terem errado a mão ao tentar emplacar um referendo sobre sua efetiva independência.

As unidades YPG são muito mais fortes do que a Peshmerga iraquiana, mas Efrin está separada do resto de Rojava e é difícil de defender. Sua perda não significaria uma derrota final para os curdos sírios, mas poderia dar o tom de como as coisas serão de agora em diante.

Patrick Cockburn (1950) é correspondente no Oriente Médio desde 1977. Trabalhou no Financial Times e hoje escreve para o jornal britânico The Independent e a revista London Review of Books. Publicou três obras sobre a história recente do Iraque, além de suas memórias. Com seu filho, Henry Cockburn, escreveu um livro sobre esquizofrenia (Henry’s Demons), indicado ao prêmio Costa Award em 2011.

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