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Quer aprender como o Pentágono funciona? Então jogue este jogo de tabuleiro

Um novo jogo desenvolvido para auxiliar o governo dos EUA que descreve a Estratégia Nacional de Defesa de 2018 mostra o que acontece quando recursos e compromissos colidem – em um enfrentamento entre a equipe Azul (Estados Unidos e União Europeia/OTAN) e a Vermelha (os permanentes inimigos do Pentágono: China/Rússia/Irã e Coréia do Norte).

Por Michael Peck
Tradução de Guilherme Cianfarani


 

Se você é alguém que quer aprender como criar uma política de defesa que balanceia objetivos estratégicos, aparato militar e um orçamento apertado, este é o jogo para isso.

O desenho a tinta do Pentágono – cercado por pequenos tanques e aviões – na caixa do jogo é a primeira pista de que Hedgemonia: um jogo de escolhas estratégicas não é um jogo de tabuleiro comum. O jogo foi publicado pela RAND Corporation, o think tank financiado pelo governo federal conhecido por relatórios políticos e análises matemáticas. “RAND tem desenvolvido jogos desde os anos 50” diz Michael Spirtas, um cientista da RAND e um dos desenvolvedores do Hedgemonia. “Mas nunca tínhamos feito um jogo para venda ao público em geral até agora”.

Na verdade, Hedgemonia não era destinada ao público geral inicialmente, foi desenvolvido para auxiliar a escrever a Estratégia de Defesa Nacional de 2018. Mas os desenvolvedores da RAND tiveram uma e excelente ideia: por que não remontá-lo como uma ferramenta educacional para aspirantes profissionais de defesa em escolas de políticas públicas e faculdades militares? “Existem muitos poucos lugares onde pessoas interessadas em política de defesa possa enxergar o pensamento do Departamento de Defesa em uma escala global”, diz Spirtas. “Normalmente as pessoas ficam apenas em um único setor, como na prontidão operacional ou postura de defesa. É muito raro ter uma visão ampla do Departamento de Defesa.”

Hedgemonia é um bicho estranho não apenas porque seu título é escrito com um “d”. “O jogo obriga os jogadores a adotarem estratégias de cobertura (hedge) que negociam entre prioridades diferentes” explica Spirtas. É em parte um jogo familiar como WAR, um jogo de guerra do tipo preferido pelos aficionados em história militar e um pouco de RPG como Dungeons & Dragons.

Há uma equipe Azul (Estados Unidos e União Europeia/OTAN) e uma equipe Vermelha (os permanentes inimigos do Pentágono: China/Rússia/Irã e Coréia do Norte). Os jogadores recebem funções específicas, sendo a mais importante o secretário de Defesa dos EUA, e a equipe de assistentes e instrutores de inteligência do secretário. O jogo se concentra na equipe Azul, com o Vermelho apenas para tornar o jogo educacional e desafiador.

Outra prova que este jogo é focado nas estratégias do Pentágono é o mapa. Hedgemonia pode ser o único jogo de tabuleiro que divide o mundo não por suas fronteiras políticas ou geográficas, mas sim pelos comandos regionais das Forças Armadas dos EUA, como Comando Indo-Pacífico, Comando Europeu, Comando Central.

A equipe Azul distribui suas forças militares entre esses comandos usando pequenas fichas de papelão. Existem também Cartas de Eventos sorteadas aleatoriamente para simular acontecimentos globais e domésticos, de golpes e guerras civis a ataques terroristas e avanços tecnológicos.

A vitória é determinada pelos pontos de influência que os jogadores ganham e perdem dependendo das ações que eles e seus oponentes realizam. (Aqueles familiarizados com o popular jogo de tabuleiro da Guerra Fria Twilight Struggle, vão notar a semelhança). Para ganhar essas recompensas, cada nação tem uma reserva de Pontos de Recursos que pode gastar na construção e manutenção de forças militares, redistribuição de tropas entre os comandos e investimento na pesquisa de vários segmentos, como mísseis de longo alcance, defesa antimísseis e forças de operações especiais.

Parece simples? Se a Hedgemonia fosse simples, provavelmente não seria uma simulação muito realista de como o Pentágono funciona. Para começar, cada nação – mesmo aquelas na mesma equipe – tem seus próprios objetivos. Isso significa que, embora os Estados Unidos estejam alinhados principalmente contra as nações vermelhas, também estão competindo com a União Europeia. O jogo pode ter vários vencedores, mas alguém tem de perder: por exemplo, a Europa perde se a Rússia atingir seus objetivos, e os Estados Unidos e a China perdem se a Coréia do Norte vencer. O que significa que, embora os Estados Unidos e a China possam ser adversários nesse jogo, eles também têm motivos para cooperar em algumas questões.

Os Estados Unidos começam com um conjunto muito maior de Pontos de Recursos para gastar do que outras nações, mas a maior parte desse orçamento é consumido pela manutenção das forças já existentes. Pesquisar novas tecnologias, ou modernizar seu exército, significa abrir mão de recursos em outras áreas. As outras nações têm poucos recursos (a Coréia do Norte tem um oitavos do total dos EUA), mas também não têm compromissos globais.

Para ter um gostinho de como é o jogo, joguei uma única rodada em uma demonstração conduzido pela RAND (tive um papel secundário como instrutor de inteligência da equipe Vermelha). A equipe Azul deve formular uma política de defesa desde o início: nesse jogo, os Azuis anunciaram que se concentrariam em manter a vantagem tecnológica dos Estados Unidos e criar uma pequena força de reação rápida para lidar com crises globais, mesmo que isso ocorra às custas das forças existentes. Um pequeno número de tropas seriam baseadas na Europa, Coréia e região do Indo-Pacífico, mas as tropas dos EUA seriam retiradas do Comando Central para economizar dinheiro e criar uma reserva com base nos Estados Unidos.

A equipe Vermelha então comprou várias Cartas de Evento e poderiam jogar uma neste turno: a China, por exemplo, poderia escolher investir em mísseis balísticos anti-navio ou assumir uma postura mais agressiva no mar do sul da China. No jogo, a equipe Vermelha tem de funcionar como adversária e mentora dos Azuis. Eles têm de informar a equipe Azul sobre suas intenções e revelar quais cartas compraram, mas não têm de revelar qual carta vão escolher, ou seja, os Estados Unidos têm uma noção do que seu adversário é capaz, mas não do que exatamente ele fará. É o dilema clássico entre avaliar as capacidades de um oponente e descobrir suas intenções, algo que todo tomador de decisões do Pentágono enfrenta.

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Michael Peck é um escritor de defesa. Ele é um colaborador da Forbes Defense, editor da Uncommon Defense e analista sênior da Wikistrat. Twitter: @Mipeck1

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