Depois do colonialismo mental: repensar e reorganizar o Brasil, de Roberto Mangabeira Unger, chegou às livrarias. Professor de Harvard e ex-ministro de Estado, Mangabeira teve entre seus alunos ninguém mais ninguém menos do que o ex-presidente americano Barack Obama. Nessa edição, com direito a um Sebastião Salgado na capa e um prefácio especialíssimo de Caetano Veloso, em um combo único de brasilidade, Mangabeira trata do hercúleo desafio de repensar e reorganizar o país.
Os lançamentos do livro, em São Paulo e Rio de Janeiro — na última, com a presença ilustre do próprio Caetano — materializaram essa peregrinação cívica do professor e uma busca por um experimentalismo: como superar a polaridade entre PT e PSDB sem naufragar num utopismo vão ou, pior, cair no conformismo cúmplice dos nossos problemas ancestrais?
Mangabeira, por sinal, já atentava para uma crítica severa a PT e PSDB, e da coesão da polaridade entre entre os dois, muito antes da crise que agora os põe em xeque juntos — e ainda que não se concorde com as observações do autor, é necessário reconhecer que alguma coisa ele anteviu: sobretudo quando a intelectualidade brasileira, quase em sua totalidade, entendia ser a Nova República mais firme do que realmente é e que, ainda por cima, PT e PSDB, cada qual em seu lado do ringue, conseguiam sintetizar com grande efetividade nossas aspirações.
A própria obra lançada é uma prova desse aspecto visionário de Mangabeira, reunindo escritos atuais e alguns de anos recentes, sobretudo do ciclo que se inicia com a vitória de Lula — a quem Mangabeira, mesmo sem apoia-lo inicialmente, resolveu apoiar na reta final de 2002 e no governo do qual integrou os quadros ministeriais. Assim, o livro ganha aspecto de documento histórico, de uma das testemunhas oculares da história política do Brasil no século 21.
Nas palavras do próprio Mangabeira, esse chamado a um projeto nacional passa por “”. Em vez de repetir modelos estrangeiros, ou se entregar ao fatalismo da nossa existência enquanto país periférico. No momento atual, com o país em grave crise econômica, política e social — efeito do fracasso anunciado da presidência de Michel Temer — as instituições e a sociedade se esgarçam radical e velozmente, esse livro de Mangabeira contribui com novos horizontes e, também, abre um debate necessário.
Mangabeira encontra Caetano, por sinal, em um ponto curioso, que é a figura de Leonel Brizola, ponto no qual ambos se reencontram na figura de Ciro Gomes hoje instalado no PDT brizolista.
Nesse sentido, antes de adesões e críticas apressadas, é preciso ler e entender Mangabeira
Um dos maiores pensadores contemporâneos do campo progressista; tem ideias interessantíssimas de experimentalismo institucional, no campo da social, econômico e político.
Surpreende que seja o Prof. Roberto Mangabeira Unger significativamente conhecido e respeitado internacionalmente e que no Brasil o professor não seja tão conhecido. A sua obra de pensamento social, por exemplo, foi descrita por Geoffrey Hawthorn como “a teoria social mais poderosa da segunda metade do século XX”.
É preciso fazer o Brasil conhecer, ler e discutir suas ideias.
Gustavo Luna.