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Clara Zetkin sobre Rosa Luxemburgo: “A obra da sua vida foi preparada para a revolução”

Esse texto, traduzido do portal espanhol Esquerda Diário por Patrícia Galvão, foi escrito por Clara Zetkin em 1919, após o assassinato de Rosa Luxemburgo. A Autonomia Literária tem a honra de publicar esse ano um dos escritos mais importantes de Zetkin: “Fighting Fascism: How to Struggle and How to Win”. Rosa Luxemburgo foi assassinada aos 47 anos, no marco da insurreição dos Conselhos operários na Alemanha, sob a repressão de um governo social-democrata. Clara Zetkin foi sua amiga pessoal e camarada.

Por Clara Zetkin | Tradução de Patrícia Galvão, no Esquerda Diário

Em Rosa Luxemburgo habitava uma indomável vontade. Sempre dona de si, sabia acender no interior de seu espírito a chama disposta a brotar quando faltasse e não perdia jamais seu aspecto sereno e imparcial. Acostumada a ter domínio de si própria, podia disciplinar e dirigir o espírito dos demais. Sua delicada sensibilidade a fazia buscar pontos de apoio para não se deixar abalar por impressões externas. Sob aquela aparente personalidade reservada, se escondia uma alma delicada, profunda, apaixonada, que não apenas incluía toda a humanidade, mas se estendia a todos os seres viventes, pois para ela o universo formava um todo harmônico e orgânico. Quantas vezes aquela a quem chamavam “Rosa a sanguinária”, cansada e atolada de trabalho, parava e voltava para salvar a vida de um inseto perdido entre plantas! Seu coração estava aberto a todas as dores humanas. Não lhe faltava tempo ou paciência para ouvir todos que a buscavam pedindo ajuda ou conselhos. Para si mesma, nunca precisava de nada e se privava de suas necessidades para dar aos outros. A disciplina que impôs a si própria e sua natural dignidade a ensinou a sofrer cerrando os dentes.

Dura consigo mesma, era toda indulgente com seus amigos, cujas preocupações e pesares a entristeciam mais que suas próprias tristezas. Sua fidelidade e abnegação estavam acima de qualquer prova. E aquela a quem chamavam fanática e sectária transbordava, cordialidade, inteligência e bom humor quando rodeada de amigos. Sua conversa encantava a todos. Em sua presença tudo o que era vulgar e brutal parecia desaparecer. Aquele corpo pequeno, frágil e delicado abrigava uma energia sem igual. Sabia exigir sempre de si mesma o máximo esforço e nunca falhava. E quando se sentia a ponto de sucumbir ao esgotamento de suas forças, impunha-se para descansar um trabalho ainda mais pesado. Trabalho e luta lhe davam fôlego. Da sua boca raramente saía um “não posso”; ao invés disso, eu “devo” sempre. Sua delicada saúde e as adversidades não ocupavam seu espírito. Rodeada de perigos e contrariedades, jamais perdeu a confiança em si mesma. Sua alma livre venca todos os obstáculos que a cercavam.

Mehring está coberto de razão quando diz que Luxemburgo era a mais genial discípula de Karl Marx. Tão claro quanto profundo, seu pensamento brilhava sempre por sua independência. Ela não necessitava submeter-se a fórmulas rotineiras, pois sabia julgar o verdadeiro valor das coisas e dos fenômenos. Seu espírito lógico e penetrante se enriquecia com a instrução das contradições que apresenta a vida. Suas ambições pessoais não se satisfazia com conhecer Marx, com dominar e interpretar sua doutrina. Necessitava seguir investigando por conta própria e criar sobre o espírito do mestre. Seu estilo brilhante a permitia realçar suas ideias. Suas teses não eram jamais demonstrações secas e áridas, circunscritas nos quadros da teoria e erudição. Brilhantes sagacidade e ironia, em tudo vibrava sua emoção e se revelava um imensa cultura e fecunda vida interior. Luxemburgo, a grande teórica do socialismo científico, não caia jamais no pedantismo intelectual que aprende tudo no papel, mas não sabe alimentar a alma com conhecimento além da sua especialidade. Sua grande vontade de saber não conhecia limites e seu espírito aberto, sua enorme sensibilidade, a levavam a descobrir na natureza e na arte a fonte da alegria e da riqueza interior.

O livro de Clara Zetkin será publicado pela Autonomia Literária no mês de Abril com o título “Como nasce e morre o fascismo”.

No espírito de Rosa Luxemburgo o ideal socialista era uma paixão avassaladora que tudo arrastava. Uma paixão que tomou a razão e o coração, que a devorava e a movia a criar. A única grande e pura ambição dessa mulher ímpar, a obra da sua vida, foi preparar a revolução que haveria de deixar o caminho aberto para o socialismo. Poder viver a revolução e participar de suas batalhas era para ela uma felicidade suprema. Com uma vontade de ferro, com um desprendimento absoluto de si mesma, com uma abnegação que não há palavras para expressar, Rosa se colocou a serviço do socialismo tudo o que era, tudo o que valia, sua pessoa e sua vida. Ofereceu sua vida à causa não apenas no dia de sua morte. Se doou, parte por parte, em cada minuto da sua existência de luta e trabalho. Por isso podia legitimamente exigir dos demais que entregassem tudo, inclusive suas vidas, em nome do socialismo. Rosa Luxemburgo simboliza a espada e a chama da revolução, seu nome ficara gravado por todos os séculos como uma das mais grandiosas e importantes figuras do socialismo internacional.

 

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