Flipei

POR QUE SÃO PAULO? VOCÊS VÃO PARA A FLIP?

Muitas pessoas perguntam se a FLIPEI vai ser realizada também em Paraty neste ano. Como todos sabem, embora tenhamos nos tornado a maior casa parceira da FLIP nos últimos tempos, o “P” da FLIPEI é de Pirata. 

Com uma programação intensa, politizada e explosiva, reoxigenamos o evento com a abertura democrática e popular conduzida pela defensora da diversidade e ex-curadora Josélia Aguiar, a quem saudamos sempre, e demos vida à margem esquerda do rio Perequê-Açu com nossa embarcação cheia de livros e ideais, chamando muita atenção do público, mas também das autoridades.

Nos anos seguintes começaram os ataques: em 2019, bolsonaristas contrários à presença de Glenn Greenwald, que tinha acabado de revelar a fraude da Vaza Jato, tentaram impedir a realização dos nossos debates. No ano passado, em 2023, o ataque veio da direção da FLIP, executado pela Polícia Militar, que censurou 12 horas da nossa programação, chegando a interromper a discotecagem do maior DJ do país, KL Jay – logo as mesmas, direção da FLIP e polícia, que permitiram, 4 anos antes, a extrema direita alvejar rojões em nossa embarcação no meio de um debate que reunia mais de 3 mil pessoas. 

A FLIP teve um período elitista e excludente. A abertura para as casas parcerias foi uma tentativa democrática de integrar mais o público e o mercado editorial. A pergunta, no entanto, permanece: qual o limite de participação que a direção da FLIP permite? Queremos um evento latino-americano em defesa do livro e da leitura que instiga múltiplos polos de acontecimento, com inúmeras casas promovendo diversidade no pensamento? Ou queremos um evento centralizado que coloca na periferia (e na vulnerabilidade institucional) os seus parceiros?

Sem tempo para ter seu trabalho atrapalhado por entidades que deveriam supostamente nos defender e auxiliar, os(as) trabalhadores(as) da FLIPEI resolveram mirar seus canhões em 2024 para São Paulo, em um dos momentos políticos mais importantes dos últimos tempos. Na esteira das feiras que já organizamos há anos na cidade, como o Salão do Livro Político com as editoras Boitempo, Veneta, Alameda e Anita Garibaldi, e mixando com os requintes da FLIPEI, vamos incendiar a maior capital da América Latina.

Este ano, diversas pessoas que nunca conseguiram frequentar nosso evento por conta da dificuldade de acessar Paraty, terão essa oportunidade. Continuamos realizando nossa intervenção em um patrimônio histórico: agora estamos na Central 1926 – Embaixada Cultural (@central_1926). 

Nós sabemos o que queremos oferecer: livros, debates, festas, diversidade, democracia real e radical. E a FLIP, será que sabe o que quer? Até outubro, muita coisa pode acontecer, mas, por ora, o que podemos afirmar é que nossa festa será nos dias 2, 3 e 4 de agosto em São Paulo. Você vem?

Hasta la victoria marujada!

Saúde,

Piratas da Flipei


 

WHY SÃO PAULO? ARE YOU GOING TO FLIP?

Many people are asking if FLIPEI will also be held in Paraty this year. As you all know, although we have become FLIP’s biggest partner house in recent times, FLIPEI’s “P” stands for Pirate.

With an intense, politicised and explosive programme, we reoxygenated the event with the democratic and popular opening led by diversity advocate and former curator Josélia Aguiar, whom we always salute, and we brought the left bank of the Perequê-Açu River to life with our boat full of books and ideals, drawing a lot of attention from the public, but also from the authorities.

In the following years, the attacks began: in 2019, Bolsonaro supporters opposed to the presence of Glenn Greenwald, who had just revealed the Vaza Jato fraud, tried to prevent our debates from taking place. Last year, in 2023, the attack came from FLIP’s directors, executed by the Military Police, who censored 12 hours of our programme, even interrupting the DJ set by the country’s biggest DJ, KL Jay – the same people, FLIP’s directors and the police, who allowed the extreme right to fire rockets at our boat four years earlier in the middle of a debate attended by more than 3,000 people. 

FLIP had an elitist and exclusionary period. The opening to partner houses was a democratic attempt to integrate the public and the publishing market more closely. However, the question remains: what limit does FLIP’s direction allow for participation? Do we want a Latin American event in defence of books and reading that instigates multiple hubs, with numerous houses promoting diversity of thought? Or do we want a centralised event that puts its partners on the periphery (and in institutional vulnerability)?

With no time to have their work hindered by organisations that are supposed to defend and help us, the FLIPEI workers decided to aim their cannons at São Paulo in 2024, at one of the most important political moments of recent times. In the wake of the fairs we’ve been organising in the city for years, such as @salaodolivropolítico with @editoraboitempo, and mixed with the refinements of FLIPEI, we’re going to set fire to Latin America’s largest capital.

This year, many people who have never been able to attend our event because of the difficulty of accessing Paraty will have that opportunity. We’re continuing our intervention in a historic heritage site: now we’re at Central 1926 – Cultural Embassy. 

We know what we want to offer: books, debates, parties, diversity, real and radical democracy. And FLIP, does it know what it wants? A lot can happen between now and October, but for now, all we can say is that our festival will take place on 2, 3 and 4 August in São Paulo. Are you coming? 

Hasta la victoria marujada!

Cheers,
Pirates of Flipei

Foto de Sara De Santis©
Foto de Sara De Santis©

A FLIPEI foi novamente um sucesso estrondoso – apesar dos problemas

Mesmo tendo que lidar com a polícia, a chuva e a falta de energia na cidade, a FLIPEI se consolida como uma das maiores casas parceiras da FLIP e um dos principais eventos de esquerda no país. Com mais de 160 convidados e 37 atividades, a livraria vendeu 65% a mais que no ano passado e o público mais que dobrou em todas as mesas. Agora, para continuar existindo, precisamos do seu apoio.

Sonho de outras feras

Por Wander Wilson É preciso ver o mundo a partir de suas ruínas, só assim podemos ver a vida possível que brota de seus escombros. Esta foi a perspectiva enunciada pela communard Louise Michel em Tomada de Posse, publicado pelas editoras Sobinfluência e Autonomia Literária na FLIPEI 2021, realizada online diante do apocalipse pandêmico.  Da homenagem à Comuna de Paris e sua luta por outra vida nas ruínas produzidas pelo capitalismo, retomamos o encontro entre a antropóloga Nastassja Martin e um urso junto do povo Even nas ruínas de outra utopia: a União Soviética. "Teria sido simples se minha perturbação...

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Confira a programação e as oficinas da Flipei

Os bucaneiros mais temidos do rio Perequê-Açú estão de volta com sangue nos olhos e faca nos dentes para mais uma edição da Festa Literária Pirata das Editoras Independentes! Antes vivíamos sob um governo golpista, agora vivemos sob um governo militar protofascista – que tem por um de seus principais inimigos o socialismo. Entretanto, curiosamente, o mais renomado intelectual militar brasileiro também era um socialista. Euclides da Cunha, autor homenageado da Flip 2019, teve, assim como Lima Barreto, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e outros grandes literatos brasileiros, seu passado político completamente apagado da história. Poucos sabem, mas o...

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Editoras e autores independentes, uni-vos, pois a Flipei está de volta!

A Flipei (Festa Literária Pirata das Editoras Independentes) está de volta em 2019 com seu barco pirata anarco-comunista e escolheu este Primeiro de Maio¹ de luta para revelar suas novas tramoias e ambições.

A primeira delas é histórica: resgatar o lado socialista de Euclides da Cunha, convenientemente esquecido na latrina da história, que será homenageado na Flip 2019. Poucos sabem, mas autor do clássico Os Sertões foi preso e expulso do Exército, em 1888, por um ato de rebeldia ao quebrar seu sabre numa cerimônia com o ministro da Guerra do Império, Tomás Coelho. Após um breve período de exclusão, Euclides volta a ser reintegrado pelo Exército na República, mas continuou se envolvendo com ideias iconoclastas e passa a assinar seus artigos e crônicas no jornal A Província de São Paulo, o antigo Estadão, com o pseudônimo do anarquista Joseph-Pierre Proudhon, a quem se referia como um dos pensadores mais originais de seu tempo. Assim como Lima Barreto, negro anarquista, Euclides também teve seu passado político ceifado no decorrer da história.

No Primeiro de Maio de 1899, Euclides escreveu um manifesto inflamado no jornal O Proletário, lembrando que a data “se destina a preparar o advento da mais nobre e fecunda das aspirações humanas: a reabilitação do proletariado pela exata distribuição de justiça, cuja a formula suprema consiste em dar a cada um o que cada um merece. Daí a abolição dos privilégios derivados quer do nascimento, quer da fortuna, quer da força. Para esse fim é necessário promover a solidariedade entre todos os que formam a imensa maioria dos oprimidos sobre que pesam as grandes injustiças das instituições e preconceitos sociais da atualidade (…) o clube ‘Filhos do Trabalho’ promoverá a divulgação dos princípios essenciais do programa socialista, empenhando-se em difundi-lo entre todas as classes sociais”.

No mesmo texto, o ex-militar defende 21 pontos do programa socialista no jornal ligado ao Clube Democrático Internacional Filhos do Trabalho. Entre eles, está a emancipação da mulher com direitos iguais, impostos pesadíssimos sobre a renda, dissolução e distribuição dos bens do clero para a sociedade, escolas e justiça gratuita para todos, substituição das forças armadas pelo povo armado; estabelecimento de bolsas de trabalho e juros iguais para todos os cidadãos.

Dois anos depois de ter publicado Os Sertões, em 1904, Euclides se radicaliza ainda mais em favor do socialismo, defendendo o legado intelectual do comunista alemão Karl Marx, “este inflexível adversário de Proudhon”, quando lembra, num artigo intitulado Um velho problema, que: “o caráter revolucionário do socialismo está apenas no seu programa radical. Revolução: transformação. Para conseguir, basta-lhe erguer a consciência do proletário (…) Porque a revolução não é um meio, é um fim; embora, às vezes, lhe seja um meio termo, a revolta. Mas esta sem a forma dramática e ruidosa de outrora. As festas do primeiro de maio são, quanto a este último ponto, bem expressivas. Para abalar a terra inteira, basta que a grande legião em marcha pratique um ato simplíssimo: cruzar os braços… Porque o seu triunfo é inevitável”.

Todos os textos trazendo o lado socialista do autor estará disponível no livro que a editora Autonomia Literária, idealizadora da Flipei, lançará no evento.

Nossa segunda arma no front é o reforço que traremos diretamente dos confins do Bixiga: o Rizomóvel, o vietcong nômade das editoras independentes. Nele vamos montar uma biblioteca pública com todo o acervo independentes presentes no barco e um estúdio de podcast onde nossos convidados serão entrevistados.

A terceira arma vai de encontro com um fenômeno interessantíssimo que vem rolando no mercado editorial: autores sem editora. Como se sabe, o livro “à cidade”, de Mailson Furtado, recebeu ano passado o mais consagrado, antigo e prestigiado prêmio literário do país, o Jabuti. A obra é uma publicação independente na qual o próprio autor desenhou a capa, foi atrás de revisão, diagramação e publicou sem nenhuma editora. Os bucaneiros da Flipei irão, portanto, reservar um espaço especial no barco para esses novos guerrilheiros autônomos na qual será cobrado apenas a taxa do cartão nas vendas (5%). Afinal, o que diferencia um pirata de um mercenário é a distribuição do butim.

Para colocar seu livro a venda em nossa nau pirata, basta preencher ESSA PLANILHA.

Não conhece a Flipei?

A Flipei é uma intervenção política feita por editoras independentes e uma trupe de anarquistas, comunistas, trotskystas, maoístas, bolivarianos e autonomistas na maior feira literária do país. Em nossa primeira edição conseguimos colocar no mar e na terra 69 horas de programação, pouquíssimas horas de sono, e cerca de 15.000 pessoas passando pelos nossos gramados, esticando suas cangas, tomando sol, comprando livros e vivenciando nosso pequeno Woodstock pirata.

E como dizia o lema de junho de 2013, “amanhã vai ser maior”, este ano pretendemos produzir um evento mais pujante, com menos hierarquias e mais horizontalidade, mais anticapitalista e com uma rede rizomática que aceite todas nossas próprias diferenças.

Assim como Euclides escreveu textos inflamados no primeiro de maio, convocou os trabalhadores à revolução e fez junções heterodoxas entre Marx e Proudhon de arrepiar os cabelos da burguesia, estaremos lá com nossa embarcação pirata para ecoar o legado de todas essas lutas. Sigamos na aventura de inventar os novos mapas de um “um mundo onde caibam vários mundos”, como diriam os zapatistas. Aguardem os próximos capítulos desse folhetim pirata, com ou sem garrafa de rum.

  1. Primeiro de maio foi o dia em que 08 trabalhadores anarquistas foram encomendados para a morte pelo Estado em 1886, nos EUA. Em meio a uma greve geral que reivindicava as 8 horas de trabalho diário que temos hoje, foram acusados de soltar uma bomba em meio a paralisação. Anos depois de serem sentenciados se constatou que não havia provas suficientes para a comprovação deste fato.
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