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Sonho de outras feras

Por Wander Wilson

É preciso ver o mundo a partir de suas ruínas, só assim podemos ver a vida possível que brota de seus escombros. Esta foi a perspectiva enunciada pela communard Louise Michel em Tomada de Posse, publicado pelas editoras Sobinfluência e Autonomia Literária na FLIPEI 2021, realizada online diante do apocalipse pandêmico. 

Da homenagem à Comuna de Paris e sua luta por outra vida nas ruínas produzidas pelo capitalismo, retomamos o encontro entre a antropóloga Nastassja Martin e um urso junto do povo Even nas ruínas de outra utopia: a União Soviética.

“Teria sido simples se minha perturbação interior se resumisse a uma problemática familiar não resolvida. Então eu poderia resolver minha depressão. Mas não. A melancolia que se exprime em meu corpo vem do mundo. Fui ter com os Evens do Itcha e vivi com eles por uma razão bem distante de uma pesquisa comparativa. Entendi uma coisa: o mundo desmorona simultaneamente em todos os lugares, apesar das aparências. O que acontece em Tvaián é que se vive conscientemente em suas ruínas.” 

Entre a afirmação de outra vida nos escombros do mundo capitalista pela Comuna, diante de novas e velhas ruínas que se amontoam, hoje retomamos a potência que emerge de escutar as trajetórias incalculáveis “que assaltam o vazio/ porque seu futuro se confunde com o crepúsculo”, como lembra René Char, citado no final do livro Escutando as feras de Nastassja 

É com muito prazer que anunciamos a participação da antropóloga em um  encontro especial com Davi Kopenawa, Hanna Limulja e Sidarta Ribeiro, na conversa sobre “Sonho de outras terras indígenas” às 20h, durante o sábado da FLIPEI 2022.

Celebramos o encontro para ouvir aqueles povos para quem um fim do mundo foi imposto pelo genocídio colonial do capitalismo e dos Estados-nação. Aqueles que diante das ruínas nunca deixaram de resistir, que diante do rosto do colonizador e do Estado não cansaram de dizer: “eu não sou você! Não somos o povo da mercadoria”, como diz Kopenawa. 

Saudamos também os yanomami e todos os outros povos indígenas do território ocupado pelo Estado e o agronegócio predatório, açoitados pelo garimpo, pelo ruralismo, pelo roubo permanente de suas terras. Façamos das ruínas um mundo onde caibam muitos mundos, escutando as feras, os sonhos e as utopias piratas. 

Bem vinda a embarcação Nastassja Martin.

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