Mesmo tendo que lidar com a polícia, a chuva e a falta de energia na cidade, a FLIPEI se consolida como uma das maiores casas parceiras da FLIP e um dos principais eventos de esquerda no país. Com mais de 160 convidados e 37 atividades, a livraria vendeu 65% a mais que no ano passado e o público mais que dobrou em todas as mesas. Agora, para continuar na luta, precisamos do seu apoio.
Por Marujos, Marujas e Marujes
A Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (FLIPEI) concluiu sua 5a edição. Foram 37 atividades em nossa Tenda Comunal e mais de 160 convidados, incluindo presenças nacionais e internacionais (como Silvia Federici e Veronica Gago). Nos consolidamos como uma das principais casas parceiras da FLIP, ampliando nossa relação e participação com os movimentos sociais e culturais de Paraty. A FLIPEI impactou diretamente a economia da cidade, gerando trabalho e fazendo circular diretamente a economia local entre pousadas vinculadas ao evento e locação de estruturas – como tendas, sonorização, andaimes, bambus, etc. Além de acolher na equipe e na programação trabalhadoras e artistas residentes de Paraty, este ano, tivemos aliados importantes, como o Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT), articulado com o apoio do Observatório dos Territórios Saudáveis e Sustentáveis (OTSS). Foram 5 dias com uma programação intensa nesta grande festa declaradamente socialista e democrática, que faz lembrar os tempos áureos do Fórum Social Mundial.
Entre dias e noites incríveis de debates, as alegrias foram construídas mesmo diante de alguns percalços. No dia 22, quarta-feira, horas antes de começarmos nossas atividades, a Casa Azul, organizadora da FLIP, nos encaminhou por e-mail um ofício emitido pela Procuradora da Prefeitura de Paraty um dia antes (21), informando que as atividades após as 23h59 deveriam ser canceladas. Assim, na reta final da montagem, fomos surpreendidos pela presença ostensiva da polícia buscando encerrar o show do KL Jay, do Racionais Mc’s, antes mesmo de seu início – a apresentação, após árdua negociação, ficou reduzida a apenas trinta minutos (sendo que os últimos 15 minutos tivemos a presença não autorizada da polícia dentro da nossa cabine técnica). No dia seguinte, 23, quinta-feira, fomos à prefeitura tentar entender o que estava acontecendo, já que nos anos anteriores e de diversos festivais que acontecem em Paraty, como o Bourbon, a Festa de Ano Novo, o Carnaval, entre outros, possuem permissão para funcionar, pelo menos, até 2h da manhã, sem intervenção policial. Assim que soubemos o que estava acontecendo, avisamos à Casa Azul que a Prefeitura estava utilizando de seu poder de polícia com base em um documento encaminhado pela própria entidade para encerrar nossas atividades no horário, em tese, solicitado por eles. Após algumas horas de conversa, a Casa Azul encaminhou uma nova solicitação ao poder público municipal, requerendo uma mudança no horário limite das atividades em suas casas parceiras, incluindo aí a FLIPEI. O documento mencionava que o horário limite passasse a ser 2h. No entanto, na quinta e na sexta-feira, 23 e 24, fomos informados que já não havia mais tempo de mudar a rotina do efetivo policial que estava na cidade. Devemos considerar, inclusive, que na quinta-feira, a cidade de Paraty ficou mais de 3h sem energia elétrica e, ainda assim, não nos foi permitido terminar a programação completa da FLIPEI. Após muita negociação com a Polícia Militar, a Prefeitura e a Casa Azul, conseguimos estender nosso horário para 1h50 no sábado.
Se 2019 foi marcado pela ausência da polícia enquanto éramos atacados por rojões de bolsonaristas contrários à participação de Glenn Greenwald, ganhador do prêmio pulitzer e um dos responsáveis por revelar a fraude judicial da Lava Jato e libertar o presidente Lula, neste ano, foi o excesso de policiamento ostensivo e a falta de flexibilidade e compreensão do poder público que acabou prejudicando o desempenho do evento. Vale ressaltar que a FLIPEI não foi convidada oficialmente para nenhuma reunião com a Prefeitura ou com a Casa Azul sobre a temática dos horários de funcionamento ou qualquer outro ajuste necessário. Gostaríamos de aproveitar a oportunidade e deixar pública nossa disponibilidade para participar dessas conversas. Esperamos que os últimos episódios mostrem também esta importância. Talvez, este seja um momento em que todos possam se perguntar: por que a FLIPEI teve novamente suas atividades prejudicadas em 2023?
Apesar da polícia, da chuva, da falta de energia, nosso saldo foi positivo. A livraria conseguiu vender 60% a mais que no ano passado (2022) e o público mais que dobrou em todas as atividades (recebemos diariamente mais de 5 mil pessoas). Mesmo assim, sabemos que não vamos conseguir fechar as contas para continuar sobrevivendo por conta das interrupções na programação. Portanto, se você gosta do nosso trabalho e acha importante que ele continue existindo, faça um apoio em nosso site ou compre o pôster e o livro Pagu na Vanguarda Socialista: os escritos mais incendiários de Patrícia Galvão. Se você já fez, convide um camarada e uma amiga para fazer também. Todo apoio é importante para que o projeto continue existindo.
Nos próximos dias estaremos imersos na pós-produção e faremos um profundo balanço. Por ora, sentimos que é necessário avisar ao público do ocorrido e pedir compreensão para que estejam conosco mais uma vez.