Em 2019, a editora Autonomia Literária focou seu catálogo nos debates antifascista, anticolonial e na reorganização da esquerda, publicando vinte livros e uma revista socialista. Além de organizar o barco pirata da Flipei — alvo de ataques da extrema-direita em Paraty –, e, como bons herdeiros da geração hippie, colocar a Rizoma, o vietcong das editoras independentes, para rodar dentro das universidades. Para 2020, arquitetamos novas peripécias: enterrar o fascismo e propor novos caminhos para uma sociedade mais justa, independente e socialista.
Mesmo passando por uma das maiores crises do mercado editorial e a ascensão institucionalizada do fascismo no Brasil, a Autonomia Literária se consolidou como uma das principais editoras de esquerda no país. Nosso catálogo em 2019 teve três eixos centrais: 1) compreender e combater a ascensão do fascismo; 2) pensar na reorganização da esquerda; e 3) resgatar vozes e histórias silenciadas.
Para realizar essa missão, compartilhamos nossas trincheiras de ideias com o historiador antifascista Mark Bray, a socióloga marxista Sabrina Fernandes, o economista anti-austeridade Yanis Varoufakis, os comunistas Jones Manoel e Gabriel Landi, o ecossocialista Michael Lowy, a revolucionária alemã Clara Zetkin, a cientista política Chantal Mouffe, os jornalistas Alceu Castilho e Daniel Santini, o cartunista Victor Teixeira, o lado mais radical de Euclides da Cunha, o slammer Emerson Alcalde e seus camaradas, o ex-militante da ALN Pedro Tierra e o sobrevivente armênio Hampartzoum Chitjian.
Destaque especial para o livro Antifa – O manual antifascista, do historiador Mark Bray, que estava na lista da revista 451 entre os cinco melhores livros de política do ano e terá uma nova reimpressão em 2020 com novo prefácio.
A revista socialista Jacobin Brasil também foi uma grande novidade que chegou dando uma voadora no cambaleante mercado editorial brasileiro. Com uma entrevista inédita com um dos principais intelectuais anticapitalistas do mundo, Noam Chomsky, na largada do site, que já conta com mais de 1,2 milhão de acessos, e um lançamento na ocupação 9 de julho completamente abarrotado, a revista está sendo o maior furor na esquerda brasileira.
Nas batalhas campais, organizamos os dois maiores e mais radicais eventos literário-políticos do sudeste: o Salão do Livro Político no Tuca (PUC-SP), com as editoras Boitempo, Veneta e Alameda, e a Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (FLIPEI), com outras 29 editoras independentes. Nossa embarcação pirata foi alvo de um ataque fascista no debate que marcou a história do evento pois, pela primeira vez, uma atividade paralela teve mais público que a programação oficial da FLIP.
Para a infelicidade da extrema-direita, todos os debates aconteceram e podem ser vistos em nosso canal no Youtube, que é outra novidade da editora e já conta com mais de 7 mil inscritos, que veio a se somar com nosso perfil no Twitter, além do bom e velho perfil no Facebook — e nosso movimentadíssimo Insta.
Ano passado também colocamos a Rizoma, o vietcong das editoras independentes, para rodar e este ano pretendemos ocupar as universidades com toda a fauna literária do que há de mais interessante, oxigenado e iconoclasta no mercado editorial.
Se em 2019 nosso objetivo era reorganizar a esquerda e resistir ao avanço do fascismo, em 2020 o foco é derrubá-lo, se não for nas ruas ou nas urnas, que seja, pelo menos, nas ideias. Para isso, já lançamos Memórias de Brumadinho: vidas que não se apagam, da jovem jornalista-prodígio Julia Castello Goulart, no marco de um ano da tragédia socioambiental, e contaremos com alguns nomes de peso no decorrer do ano, como o pensador dissidente Noam Chosmky, o marxista argentino Atílio Boron, a filósofa Nancy Fraser, o jornalista – e um dos fundadores do The Intercept – Jeremy Scahill, um dos escritores anticapitalista mais renomados da modernidade Mark Fisher, o livro autoral do maior comunista do Youtube Jones Manoel e o livro sobre os Panteras Negras organizado por ele e Gabriel Landi, o livro-manifesto sobre o Green New Deal dos socialistas-democráticos Alyssa Battistoni e Daniel Alanda Cohen, o anarquista Acácio Augusto, o jornalista Aaron Bastani, o anarco-comunista xamânico Peter Lamber Wilson (o célebre Hakim Bay), a poeta feminista Mariana Felix, o HQ da história do antifascismo, a coleção Jacobin/Verso e muitas novidades. Segue abaixo uma lista inicial do que estamos preparando:
- Memória de Brumadinho (Julia Castello Goulart)
- O velho está morrendo e o novo ainda não pode nasce (Nancy Fraser)
- Raça, classe e Revolução – a luta pelo poder popular nos Estados Unidos (Org. Jones Manoel e Gabriel Landi)
- Bitcoin: a utopia tecnocrática do dinheiro apolítico (Edemilson Paraná)
- A práxis concretizada: Lênin, um leitor e interprete de Marx e Engels (Leon Denis)
- Terrorismo Ocidental (Noam Chomsky)
- O feiticeiro da tribo: a farsa de Mario Vargas Llosa e do neoliberalismo na América Latina (Atílio Boron)
- Realismo capitalista (Mark Fisher)
- Depois da ilusão democrática: para reconstrução da esquerda revolucionária (Jones Manoel)
- Por que as mulheres têm melhor sexo sob o socialismo e outros argumentos para a independência econômica (Kristen Ghodsee)
- Consequência Drone: assassinos sem alma (Jeremy Scahill com The Intercept)
- Dando uma de puta: a luta de classes das profissionais do sexo (Melissa Gira Grant)
- Marx no fliperama: vídeo game e luta de classes (Jamie Woodcock)
- Anarquia em movimento: o fogo grego na antiglobalização (Acácio Augusto)
- Sexo, drogas e feminismo (Mariana Felix)
- Comunismo de luxo totalmente automatizado (Aaron Bastani)
- Um homem feliz (Douglas Barros)
- Um planeta a vencer: por que precisamos de um novo acordo verde (Kate Aronoff, Alyssa Battistoni, Daniel Aldana Cohen, and Thea Riofrancos)
- Construindo as comunas na América Latina: democracia radical na Venezuela (George Ciccariello-Maher)
- Quatro futuros: a vida após o capitalismo (Peter Frase)
- República Popular do Walmart: como as maiores empresas do mundo estão operando nas bases do socialismo (Michal Rozworski)
- Luxo comumal: o imaginário político da comuna de Paris (Kristin Ross)
- Utopias piratas (Hakym Bay)
- 100 anos de luta antifascista (HQ do Gord Hill e Mark Bray)
- O direito e o futuro da democracia (Roberto Mangabeira Unger)
Entre outras surpresas que estamos planejando além do Salão do Livro Político em São Paulo, que acontecerá em maio, e a Flipei em Paraty (RJ), que ocorrerá em julho. Contamos com vocês, guerreiros, militantes, estudiosos e leitores para construir as trincheiras de 2020 a fim de enterrar uma vez por todas as aspirações neofascistas que estão surgindo do esgoto da história nos últimos anos. Avante!