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Lançamento do livro “Bem Viver” em SP, RJ e Minas: o eixo da falência neocolonial do Brasil

Os lugares escolhidos para o lançamento da edição brasileira do livro O Bem Viver – uma oportunidade para imaginar outros mundos, do ecossocialista equatoriano Alberto Acosta, não poderiam ter sido melhores: os maiores estados do sudeste brasileiro, e os três maiores da federação, polo mais “desenvolvido” do país — hoje naufragado em uma gravíssima crise com desdobramentos ambientais, econômicos, políticos e  sociais. A região que sempre se gabou de  levar o resto da nação nas costa hoje sofre com os danos colaterais da exploração inclemente da natureza, pintada como “desenvolvimento”, e da neocolonização, envernizada pelas privatizações recentes.

Neste exato instante, parte relevante de Minas Gerais está devastada pela lama tóxica da Samarco (controlada pelas mineradoras Vale SA e BHP); já São Paulo, apesar da chuva, padece vítima de uma crise hídrica com seus reservatórios secos e os principais rios de sua capital poluídos (enquanto a Sabesp cacifa seu capital na Bolsa de Nova York); enquanto isso, o Rio de Janeiro vive às voltas com uma grave crise de saúde pública, com os hospitais entregues ao setor privado através das Organizações Sociais (OS) — e a falta de dinheiro causada pela baixa do preço do petróleo, que sustentava as contas do estado, consequência comum, e cíclica, de economias que se alicerçam no extrativismo.  

Em São Paulo, no dia 27 de Janeiro, no Espacio 945, Acosta debateu com Salvador Schavelzon (Unifesp) e Célio Turino, prefaciador da edição brasileira, na mesa O Bem Viver como horizonte para superação do desenvolvimentismo; Com a casa cheia por uma animada multidão, o debate se estendeu por duas horas até a apresentação da banda Teko Porã.

No Rio de Janeiro, no dia 28, tivemos o encontro de Acosto com outro pensador radical sul-americano: Oscar Vega Camacho, intelectual boliviano do grupo Comuna; e também a presença de Camila Moreno (CPDA/UFRJ) e Bruno Cava (Uninômade) na mesa Depois do ciclo progressista: novas alternativas ao sul, realizada na Escola de Serviço Social da UFRJ.

 

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Em Mariana (MG), no dia 29, a militância que busca justiça no maior desastre ambiental do país confirmou presença no debate, como não poderia ser diferente. Acompanharam Acosta, na mesa O alto preço do extrativismo na América Latina: há alternativas?, Andrea Zhouri (UFMG), Isabela Corby (advogada popular do Coletivo Margarida Alves), Sammer Siman (Brigadas Populares) e Letícia Oliveira (Movimento dos Atingidos por Barragens).

Depois, visitamos uma das cidades vítimas do extrativismo na região de Mariana, a cidade de Paracatu, soterrada por dois metros de lama tóxica. O único sinal de vida que restou no lugar era o wifi da prefeitura. “Paracatu” é um termo de origem tupi que significa “rio bom”, através da junção dos termos “Pará” (“rio”) e “Katu” (“bom”).

E a região de Marina, parada final do tour de lançamentos, é a expressão prática e simbólica da verdade sobre o significado do “desenvolvimento”, ou pelo menos dessa ideia de desenvolvimento como o domínio técnico (e destrutivo) do homem sobre a natureza — a grande armadilha contra a qual Acosta se insurge em sua obra e na vida política, sempre propondo novas e inovadoras saídas como esta: nada de contemplar a catástrofe e se fechar em um vazio niilista, mas sim de “aprender o caminho do inferno para dele se afastar” como não à toa se chama o primeiro capítulo de O Bem Viver.

O livro, agora disponível no Brasil, já chega como um dos maiores clássicos políticos contemporâneos da América Latina, e é fruto da parceria entre as editoras Autonomia Literária e Elefante, com apoio da Fundação Rosa Luxemburgo.

 

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