O transporte público coletivo atravessa uma de suas crises mais graves no Brasil. O número de passageiros nas principais redes do país diminuiu em um terço na última década em uma tendência de queda agravada pela Covid-19, mas anterior a ela. Com a derrrocada, o modelo de financiamento baseado na remuneração por passageiros quebrou. Mesmo a estratégia de operar os sistemas sempre no limite, mantendo ônibus, metrôs e trens superlotados, não tem sido mais suficiente para fechar as contas. Com a concorrência desleal dos aplicativos, que operam baseados na falta de regulamentação e na exploração de trabalho precarizado, junto ao aumento da motorização, o horizonte é o pior possível.
A crise, porém, abriu caminho para uma nova realidade: a Tarifa Zero. Defendida por movimentos sociais há duas décadas, a política está presente de maneira universal em mais de 100 cidades, beneficiando mais de 5 milhões de pessoas. O passe livre surge como a melhor opção para não apenas reverter a queda do volume de passageiros, mas também aprimorar e melhorar as redes existentes. O livro, baseado em um trabalho obsessivo de mapeamento, estudo e acompanhamento das experiências, conduzido pelo pesquisador Daniel Santini, apresenta o quadro atual mais completo sobre o tema no Brasil. Ainda, ao falar do fim das catracas, trata também de questões sociais, ambientais e humanas, relacionado alguns dos principais desafios e possibilidades para a mobilidade urbana. Um convite a pensar, questionar e imaginar distopias e utopias.
Este livro de Daniel Santini é absolutamente completo e aborda praticamente todos os aspectos da mobilidade e da Tarifa Zero nos transportes coletivos urbanos. Com dados de experiências concretas de mais de cem cidades brasileiras, o texto evidencia a importância social de se superar as catracas. Ao possibilitar a mobilidade efetiva de toda a população, indiferentemente às condições sociais e individuais, a Tarifa Zero contribui para a igualdade real entre os mais variados seres humanos.
O autor analisa a fundo como são equivocados os modelos que, desde o início, regulam as concessões no país. Detalha e problematiza a remuneração do serviço baseada no número de pessoas transportadas, e não no custo real do deslocamento dos veículos. Passageiro é receita, e não custo, e tal distorção serve como incentivo à superlotação. Quanto mais gente em cada veículo, mais rendosa é a viagem para o operador, um problema que não vem de hoje. A primeira concessão no país, não custa lembrar, foi em 1817, feita por Dom João VI no Rio de Janeiro.
O texto apresenta e esclarece de forma ampla o que vem a ser a Tarifa Zero, além de abordar integralmente questões-chave relacionadas à mobilidade urbana. Daniel Santini, com mais este livro, completa a compreensão de pontos fundamentais relacionados ao transporte de pessoas nas cidades, incluindo aspectos individuais e socioeconômicos de nossa sociedade. Vale a pena ler e difundir esse excelente trabalho de Santini. Aproveitem!
— Lucio Gregori, engenheiro, ex-secretário municipal de Transportes de São Paulo e idealizador da Tarifa Zero
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