Qual horizonte: hegemonia, estado e revolução democrática
Entre abril de 2018 e fevereiro de 2019, Álvaro García Linera e Íñigo Errejón, duas das mentes mais brilhantes do pensamento político contemporâneo, mantiveram uma longa conversa, entre La Paz e Madrid, sobre as condições que permitem hoje que as classes populares se organizem e exerçam o poder político. Em uma rica troca de experiências, leituras e aprendizados sobre os processos de mudança e lutas na América Latina e no sul da Europa, algumas questões centrais nortearam a conversa: por que e como governam aqueles que governam? Que condições são necessárias para que os de baixo defendam uma nova vontade geral? Como o exercício do poder pode transformar o Estado e não apenas gerenciá-lo? Como lutar contra a hegemonia neoliberal e transformar as condições e os horizontes da vida? E como fazer essas conquistas perdurarem em contextos de pluralismo político inalienável? Longe tanto de mecanismos na esquerda que ameaça aprisioná-los no momento da luta e da melancolia, quanto do risco de confinar a política à mera gestão do que já existe, Álvaro García Linera e Íñigo Errejón apostam neste livro em um olhar compartilhado sobre o poder, a hegemonia e o que há de essencial na democracia para a renovação do pensamento e da prática política emancipatória.
“Álvaro García Linera, ex-vice-presidente da Bolívia, é um dos melhores intérpretes desse momento histórico de resgate de uma estratégia de ruptura com o capitalismo. A obra de Linera tem o sentido de buscar construir uma estratégia revolucionária no século XXI, pensando a diferença entre estar no governo e conquistar o poder, ter maioria no Congresso e conquistar a hegemonia.”
— Jones Manoel
A nova esquerda na América Latina: partidos e movimentos em luta contra o neoliberalismo
As chamadas “revoltas da indignação” que eclodiram pelo mundo na década de 2010 são marcos incontornáveis para se buscar compreender os dilemas dos sistemas democráticos na atualidade. Muito esforço de investigação e análise ainda precisa ser feito para identificar suas origens, dinâmicas e consequências históricas. Um fato, contudo, parece evidente: a dispersão dos movimentos que protagonizaram esses acontecimentos, mais do que a sua institucionalização, é o que se observa nos diferentes países que sentiram o chão tremer com as multidões nas ruas.
O trabalho de Juliano Medeiros contém essa premissa e de forma arrojada joga luz sobre a excepcionalidade dos processos de institucionalização política decorrentes das revoltas, fazendo uma escolha dedicada à formulação das esquerdas e sua reorganização na América Latina. Uma nova esquerda teria surgido dessa experiência de contestação social perante a explosão da desigualdade, do desemprego e da violência de Estado no pós-2008, quando uma nova fase do capitalismo produziu uma profunda crise cujos prejuízos foram integralmente transferidos para as maiorias alijadas do poder.
Embora as revoltas tenham efeitos tanto para uma nova esquerda quanto para forças de extrema direita, é certo que no campo progressista as lutas feministas, antirracistas, indígenas, por justiça socioambiental e democracia real passam a ter uma centralidade indissociável das demandas consideradas tradicionalmente econômicas. A partir da pesquisa criteriosa de Juliano, podemos encontrar paralelos e diferenças sobre os desafios da ocupação institucional em uma perspectiva radicalmente transformadora, avessa ao reformismo social-democrata que colonizou o nosso continente. A história revelará os limites e as potencialidades dessa aposta, que Juliano endossa com a esperança de um lutador e dirigente partidário comprometido com os ideais do socialismo e a refundação da democracia brasileira.
– Áurea Carolina
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