Tomada de posse
Escrito pela poeta, militante anarquista e educadora, Louise Michel, Tomada de Posse foi um dos últimos textos de Louise Michel e clama, com voz potente, pela rebelião contra as injustiças do capitalismo: a exploração colonial, a exploração das mulheres e das crianças, a exploração do trabalho do proletariado. O panfleto, publicado em 1890, é pela primeira vez publicado na íntegra e em sua originalidade no Brasil. Escrito no final de 1889, na encruzilhada da atividade propagandista da tribuna e da escrita autobiográfica e novelesca, este manifesto quer “esquentar” o público contra a República burguesa no grandioso centenário de 1789. Aqui uma Louise Michel viva, vibrante e potente surge, trazendo o relato dos dias, misturando-se aos acontecimentos do momento e aos mitos imemoriais da luta prometeica contra a Força. Seu discurso anarquista ressoa com um vigor cívico que não poderia ser mais atual. Além da apresentação, a edição contempla uma tradução inédita do julgamento de Michel, após sua luta na Comuna de Paris, onde a anarquista pronuncia, diante da figura do juiz e de todo Tribunal, formado pelos homens de seu tempo: “Eu não quero me defender. Eu não quero ser defendida. Pertenço inteiramente à Revolução Social e declaro que aceito as responsabilidades por todas as minhas ações”.
O livro conta com a apresentação, “Louise Michel, uma vida oceânica,” de Gabriela de Laurentiis, artista, pesquisadora e professora, doutoranda pelo programa de pós-graduação da FAU-USP, mestre pelo Departamento de História Cultural da UNICAMP e bacharel em ciências sociais pela PUC em São Paulo e contempla uma tradução inédita do julgamento de Michel, após sua luta na Comuna de Paris, onde a anarquista pronuncia, diante da figura do juiz e de todo Tribunal, formado pelos homens de seu tempo: “Eu não quero me defender. Eu não quero ser defendida. Pertenço inteiramente à Revolução Social e declaro que aceito as responsabilidades por todas as minhas ações”.
Tomar a terra
Para uma apresentação deste livro, é necessário, antecipadamente, recorrer ao contexto de sua origem. Primeiro, quanto a ZAD: termo que sintetiza a expressão “Zona a ser defendida”, em alusão a sigla em inglês TAZ, “Zona autônoma temporária”, criado pelo escritor Hakim Bey (pseudônimo de Peter Lamborn Wilson). Segundo, quanto a localidade de Notre-Dame-des-Landes: em Nantes (França), um terreno agrícola de 1.650 hectares que se tornou conhecido no início dos anos 2010 por conta de um conjunto de pessoas o terem ocupado a fim de barrar a construção de um aeroporto no local. Desde a década de 1960 havia planos governamentais e privados para construir um aeroporto em Notre-Dame-des-Landes, mas agricultores e ambientalistas locais se opuseram e se tornaram posseiros, ocupantes “ilegais” do terreno”. Durante décadas houve resistência aos planos de construção do aeroporto. Em 2000, parte da terra foi ocupada quando seus agricultores foram despejados. Os novos ocupantes criaram estruturas autônomas e autossuficientes. As tentativas de despejo foram mal sucedidas em 2012 e 2018. Em janeiro de 2018, o então presidente da França, Emmanuel Macron, informou que os planos de construção do aeroporto seriam arquivados. Então, um processo de “legalização”, institucionalização, de projetos internos a ZAD de Notre-Dame-des-Landes foi empurrado pelo governo. Assim, nasce este livro, uma resposta de uma história longa de luta pela terra!
Agora, uma apresentação nas palavras de seus anônimos autores:
“Nós somos pessoas que escolheram ficar para viver no bocage (um espaço em que se conjugam bosques e pastos, floresta e cultivo) de Notre-Dame-des-Landes (França) depois de anos de batalhas e de ocupação. Se nós estamos para sempre enraizados aqui, é porque nós fomos possuídos por essa luta. Nós não imaginávamos nem por um segundo abandonar aqueles e aquelas que nos chamaram para viver aqui. Porque nós continuamos a atravessar uma experiência fundamentalmente comunista nessas terras prometidas do movimento.
Cinco anos após “Da ZAD aos Comunais”, este texto busca: retornar às questões fundiárias que se colocam a nós, pensar nossa relação com as terras e com a Terra, continuar a explorar a hipótese de uma comunização do bocage. Se o Estado e os inquisidores da radicalidade abstrata afirmam de comum acordo que tudo está acabado, é sim porque algo se prolonga. Alguma coisa de profundamente arredio aos grilhões binários nos quais eles se prenderam: violência vs não violência, legal vs ilegal, radical vs popular, ofensiva vs alternativa.
Afastar-se da ideologia para aprender com a experiência. Opor à reconfortante clareza dos modelos (sejam eles políticos, econômicos, científicos, morais), a opacidade de experiências singulares e imprevisíveis. Recusar reduzir o desconhecível a um sistema de transparências pacificadoras. Consentir a se jogar de corpo e alma no desconhecido. Para todos os doutos – apaixonados por formas ideais – a experiência política é sempre julgada à luz de suas imperfeições, de seus afastamentos face aos absolutos, em vez de ser plenamente vivida em todas as suas potencialidades.
Tomar distância, mudar o ponto de vista. Sair da mediocridade sentenciosa do comentário. Retornar às nossas hipóteses. Desdobrar nossas projeções. Buscar retranscrever o que nós vivemos na ZAD e que nós traduzimos laboriosamente, e por necessidade, na escrita. Falar desde os gestos, as tentativas… Furar o véu dos clichês para partilhar a experiência nua de um movimento intenso e complexo: entrelaçamento de impotência e potência, de inimizades profundas e de amizades sublimes, de derrotas e de vitórias, de liberalismo obtuso e de comunização em ato.”
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