Pax Neoliberalia, de Jules Falquet
Ancorada nas reflexões feministas sobre a globalização e a dinâmica das relações sociais de sexagem, raça e classe, esta obra é um ensaio sobre o uso da coerção como método – e sobre o rol da violência contra as mulheres – para garantia de instalação do neoliberalismo global.
A instrumentalização de uma violência aparentemente “cega” que, na realidade, é tanto controlada politicamente, quanto implacável, constitui o “fio vermelho” que vincula os quatro textos que compõem o livro. Aterrorizantes semelhanças entre a tortura política e a violência doméstica, em El Salvador na América central. A criação de uma classe de sexo masculina dos “irmãos de armas”, graças ao serviço militar na Turquia. Difusão das técnicas de “guerra de baixa intensidade” no México. E perpetuação neocolonial das violências contra as mulheres indígenas na Guatemala.
Falquet tece distintos níveis de análise para fazer trabalhar juntas as perspectivas teórico-políticas que, geralmente, são mantidas separadas. Assim, ao revelar continuidades que vinculam a violência misógina aos métodos coercitivos militar-policiais, este trabalho expõe as profundas lógicas de gênero da governança global, aqui chamada, por meio de uma ironia, de Pax Neoliberalia.
O velho está morrendo e o novo não pode nascer, de Nancy Fraser
O neoliberalismo está se fragmentando, mas o que surgirá entre seus cacos? A principal teórica política feminista do século XXI, Nancy Fraser, disseca a atual crise do neoliberalismo e argumenta como poderíamos arrancar novos futuros de suas ruínas.
O colapso político, ecológico, econômico e social global – simbolizado pela eleição de Trump, Bolsonaro e outros governantes de extrema-direita que dizem ser antiestablishment, embora façam parte dele – destruiu a fé de que o capitalismo neoliberal pode beneficiar a maioria do povo dentro da democracia. Fraser explora como essa fé foi construída no final do século XX, equilibrando dois princípios centrais: reconhecimento (quem merece direitos) e distribuição (quem merece renda). Quando eles começam a se desgastar com as sucessivas crises nas primeiras décadas do século, novas formas de populismo surgem à esquerda, para os 99%, e à direita, para o 1%.
Fraser argumenta que esses são sintomas da maior crise de hegemonia do neoliberalismo, um momento em que, como Gramsci disse, “o velho está morrendo e o novo não pode nascer”. O livro é acompanhado de uma belíssima entrevista do editor da revista Jacobin, Bhaskar Sunkara, com Fraser, que argumenta termos a oportunidade de transformar o populismo progressista em uma força social emancipatória, podendo, assim, reivindicar uma nova hegemonia.
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