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Confira a biografia política de Antonio Negri, militante histórico que chega ao Brasil esta semana

Conheça a história do filósofo político marxista e militante radical cuja obra dialoga com Foucault, Deleuze e Espinosa

Antonio Negri chega ao Brasil, convidado pela Boitempo e pelo Sesc em São Paulo, para participação no Seminário Internacional 1917: o ano que abalou o mundo, que acontece no Sesc Pinheiros, entre 26 e 29 de setembro. Nesta oportunidade, dois livros serão lançados: “Negri no Trópico 23º26’14” e “As Verdades Nômades“. O primeiro livro trata dos debates travados na sua última visita do autor ao Brasil. Entre os debatedores estão Marilena Chaui, Michael Löwy, Suely Rolnik, Alberto Acosta, Peter Pál Pelbart, Tatiana Roque, Homero Santiago, Vera Telles, José Guilherme Pereira Leite, entre outros pensadores. O segundo livro foi escrito em quatro mãos com Félix Guattari, filósofo ligado ao pós-estruturalismo francês e incansável agitador político presente em diversas iniciativas ao redor da Europa, da Primavera de Praga até os movimentos ecológicos, passando por maio de 68. Autonomia Literária preparou uma pequena biografia para os marujos de primeira viagem.

BIOGRAFIA POLÍTICA

Antonio “Toni” Negri nasceu na cidade italiana de Pádua, no Vêneto, em 1º de agosto de 1933. Na década de 1950, ingressou no curso de Filosofia da Universidade de Pádua, no qual demonstrou particular interesse no historicismo alemão; uma vez graduado, foi rapidamente incorporado ao departamento de Filosofia da faculdade de Direito de sua alma mater. Sua atividade intelectual, por sinal, jamais esteve desacompanhada da política: iniciou sua vida política junto a movimentos da esquerda católica e, logo depois, se tornou membro do Partido Socialista Italiano (PSI) em 1956.

Nos anos 1960, colaborou com o círculo de intelectuais marxistas que girava em torno da revista Quaderni Rossi, a qual envolvia pensadores como Mario Tronti e serviu como referência teórica para o movimento operaísta – o qual se caracterizou por uma retomada vívida do pensamento marxista, pela intensa produção teórica associada às lutas materiais e a recusa de vias burocráticas de organização.

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Nesse contexto de radicalização política, marcado pela greve de 1962 da Fiat, Negri rompe com o PSI em 1963, e acirra sua postura crítica à débil social-democracia italiana, capitaneada pelo frágil PSI, ou por uma via soviética, simbolizada pelo Partido Comunista Italiano (PCI), maior partido comunista da Europa Ocidental; em 1967, ele se torna catedrático em Teoria do Estado pela sua alma mater e em 1969 participa da fundação do Poder Operário, importante organização operaísta no contexto do Outono Quente.

Envolvido profundamente com o movimento operaísta, Negri ocupa um papel central em um contexto perpassado por greves selvagens – voltadas tanto contra os patrões quanto contra as direções burocráticas dos sindicatos –, levantes estudantis, manifestações de rua e o não alinhamento à esquerda parlamentar – o que se acelera com o 1968 italiano, inaugurando um ciclo quase ininterrupto de agitações que irá se estender pelos próximos dez anos.

Nos anos 1970, Negri é peça fundamental na formação da Autonomia Operária, enquanto o ciclo de lutas chega ao seu ponto alto com o escárnio das esquerdas contra a capitulação definitiva do PCI em 1977, pelas mãos do chamado Compromisso Histórico, que apenas sacramentou o acordo tácito que já unia a esquerda comunista à direita. A partir daí, com a declaração final da falência da esquerda parlamentar, o grau de tensão e o número de confrontos estoura na Itália.

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O 1977 italiano chama a atenção de toda a Europa: o movimento contestatório local atinge massa crítica, se tornando alvo de uma violenta repressão de Estado. Em 1978, com o sequestro e assassinato do premiê democrata cristão Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas, a repressão recai violentíssima e normas de exceção são criadas e aplicadas.

Negri, visto como um dos grandes teóricos do processo, entra na alça de mira, o que, depois de chegar a ser preso, passa uma temporada na França no ano seguinte onde, atendendo ao convite de Louis Althusser, ministra as conferências sobre os Grundrisse que deram origem a “Marx além de Marx” (veja aqui: http://bit.ly/2dDj16Z) – um interregno entre os dois períodos no cárcere.

Dezenas de milhares entraram na mira da onda persecutória de Estado, sobretudo intelectuais e militantes notórios, sendo alvos de interrogatórios e prisões arbitrárias. Um dos líderes da Autonomia Operária, Negri é acusado de ser cattivo maestro e mandante moral do assassinato de Moro no rumoroso Processo de 7 de Abril (de 1979).

Negri faz a sua própria defesa em vão, mas passa vários anos no horror do sistema prisional italiano, no qual se dedica a estudar e a escrever – quando encontra a obra do filósofo luso-holandês Espinosa, essencial para suas formulações posteriores; ironicamente, ele acaba eleito na prisão para o cargo de deputado pelo Partido Radical em 1983.

Negri fazendo sua própria defesa no tribunal

Sua imunidade, contudo, é rapidamente derrubada pelos seus pares, mas ele foge para a França, onde se radica. Ele seguiu os passos de inúmeros outros perseguidos dos chamados anni di piombo (os anos de chumbo italianos) – os quais, sob a proteção da Doutrina Mitterrand, são recepcionados e protegidos no país vizinho.

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Na França, Negri é acolhido por intelectuais do porte de Gilles Deleuze e Felix Guattari e passa a lecionar nas principais universidades locais. Com Guattari escreve o livro “As Verdades Nômades”, que traz as possibilidades de renovação do pensamento e das práticas políticas e forja assim um novo ciclo de lutas. Em 1997, ele retorna voluntariamente à Itália para se entregar às autoridades para o cumprimento do resto de sua pena e, assim, tentar forçar o Estado italiano a perdoar inúmeros militantes que não podiam retornar ao seu país – um gesto de sacrifício que terminou restando em vão.

Escreve Império (2000) com o pensador americano Michael Hardt, dando início à trilogia que teve ainda Multidão (2004) e Comum (2009), a qual lhe deu franca notoriedade mundial, sobretudo por tratar de temas caros ao movimento alterglobalista, que vivia seu auge, enquanto manteve os olhos na América Latina e, depois, nos movimentos multitudinários iniciados pela Primavera Árabe – dos quais se seguiram o Occupy Wall Street e fenômenos congêneres pela Europa, sobretudo na Espanha, e pelo mundo.

Em seus mais de oitenta anos, Negri escreveu dezenas de obras apresentando uma visão atual, autêntica e potente e de pensadores como Marx e Espinosa, realizando, por conseguinte, uma sofisticada análise das profundas mudanças que o Capitalismo sofreu nas últimas décadas – sempre se mantendo do ponto de vista das lutas materiais e da multidão.

Não perca o lançamento! Facebook: https://www.facebook.com/events/348040382306626/

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